Bem vindos ao Baile Charme!
A Primeira Vez A Gente Nunca Esquece!
Sei que usei uma frase clichê para dar o título ao texto, mas não vejo outra forma de expressar o que senti quando fui ao meu primeiro baile de charme. Antes de frequentar os bailes de charme, eu ia muito aos bailes de “Funk Classics” ou balanço, como eram denominados aqui no Rio no início dos anos 80. Foi como se eu estivesse entrando num sonho e que até hoje não sai. Não sai do sonho porque neste exato momento, ao escrever esse texto, estou ouvindo nada mais nada menos que “Discover” com David Joseph. Nooossaaaa!!! Só de pensar me arrepio.
Os salões do Cessp-Rio no centro do Rio de Janeiro, Mackenzie no Méier, Cine Show, Tem tudo e o Portelão (Madureira), Vera Cruz no baixo Abolição, Bola Preta na Cinelândia, em pleno centro da cidade, Disco Voador em Marechal Hermes... Enfim todos eles vinham abaixo ou como costumávamos dizer:
- Queeeebra tuuuddooo DJ!
Os passos marcados no salão, as roupas vincadas, os sapatos no trato, pretas belíssimas, os pretos cheirosos e a gentileza ao chamar a dama para dançar, não tinham igual.
Passado os anos, participando ativamente do movimento charme, me sinto triste ao ver a queda de público dos grandes bailes, que na verdade hoje não existem mais. Não existe mais um evento black que seja referência no segmento, o que acontece por aqui são festas isoladas onde comida e bebida são liberadas ou então os “Happy Hours” nos bares, nas ruas ou nas esquinas da vida.
Na boa, sinto uma tristeza ao ver o cenário atual. Não sei o que aconteceu com a criatividade para divulgar os eventos, pois é sempre o mesmo texto nas filipetas distribuídas.
“Festa XYZ”
Apresenta
A Festa do Rola Tudo Com Comida e Bebida Liberada
Nada contra esses eventos, mas a sensação que tenho é que o público que participa desse tipo de reunião, frequenta somente para comer e beber, e não para celebrar a música ali tocada, fazer contatos profissionais ou simplesmente rever os amigos.
A falta de qualidade nesses eventos isolados, o descaso com o público, a falta de criatividade na divulgação, a falta de sensibilidade de alguns DJ`s em suas sequências de músicas repetidas e principalmente a falta de profissionalismo de uma boa parte dos organizadores, fazem o segmento estagnar. Com essa estagnação, acontece o movimento iô-iô de público nos bailes que ainda resistem ao modismo como é o caso do Viaduto de Madureira, o único que ainda é referência nos dias de hoje.
Mas mesmo assim pergunto:
- Por que não dão continuidade aos eventos já existentes?
- Por que não fazem o mesmo evento com uma nova roupagem?
- Por que esses eventos, sendo totalmente atuante em áreas do subúrbio, não têm uma responsabilidade social local?
Então vou tentar explicar:
A origem deste estilo remonta uma época paralela à Soul Music, nos anos 70, cuja execução no Brasil foi realizada por DJ`s como Mister Funk Santos. O charme tem mais do som da Filadélfia pelos arranjos e melodia do que propriamente do Soul, afinal, tratava-se de uma terceira vertente depois do Soul e o Funk. No final de 76 a Soul Music dava sinais de desgaste, seja pela pulverização do repertório ou pela não renovação do seu público.
O segundo e definitivo golpe sofrido pela Soul Music foi dado pela revolução trazida pela Disco Music em 1977. Por ter sido um movimento mundial, a Disco Music mudou o comportamento, a moda e a cultura dos jovens da Zona Norte do Rio e boa parte de Brasil.
Em 1980 a Discoteca se enfraquece como movimento de "dança coletiva", abrindo espaço para o "pop orientado" das gravadoras multinacionais instaladas no Brasil, deixando, por assim dizer, um vácuo musical nas equipes de som do subúrbio do Rio.
Corello Dj aproveitou esse "hiato" musical e experimentou músicas e estilos não percebidos por outros DJ's da época e o com essa aceitação e resposta corporal, o termo Charme foi criado por Corello DJ, no Rio de Janeiro, em março de 1980 - dentro do baile do clube Mackenzie, no bairro do Méier. Corello DJ lança para a massa a seguinte frase:
“Chegou a hora do charminho, transe seu corpo bem devagarzinho”.
Essa história do “charminho” ficou na cabeça das pessoas e elas passaram a falar:
Agora eu vou pro Charminho!!! Vou ouvir um Charme!!!
Vários DJ's aderiram ao estilo e passaram a tocar set`s de charme em bailes que aconteciam nos clubes como o Renascença Clube, Cassino Bangu, CCIP de Pilares, Grêmio de Rocha Miranda e até a equipe Furacão 2000 tinha o seu bloco de charme em seus eventos.
Em 1985, nascia a equipe “Só Mix Disco Club” a nº. 01 do Charme, tendo como membros dessa união Corello, Fernandinho DJ e Wilson da Torre, bem depois entrou o DJ Loopy – conhecido como o “O Homem da Capa Preta”, tocando músicas lentas de tirar o fôlego. Estes DJ`s dominaram por muito tempo o cenário black no subúrbio do Rio de Janeiro, com seus discos raros e de difícil acesso. O templo do charme, por muito tempo, foi o Grêmio Recreativo Vera Cruz no bairro da Abolição - RJ, depois veio o Cine Show, Tem tudo e o Portelão - todos em Madureira.
O movimento teve seu ápice com apresentações internacionais de Glenn Jones, Sybil, Curtis Hairston e Omar Chandller. Não posso deixar de citar o famoso baile do Disco Voador, localizado no bairro de Marechal Hermes/RJ, que tinha as carrapetas comandadas pelos DJ's Iones, Arara, Pedro, Marcão, Claudinho Careca e por fim Orlando, todos foram da equipe “Cassino Disco Club”. Esta equipe fazia a festa aos domingos com a casa sempre lotada.
No rádio, o charme entrou no ar em 1980 com o programa - “Trop Music” na antiga rádio Tropical FM com o Dj Markão nos pratos, Robson França na locução e o DJ Marlboro na coordenação. Quase na mesma época, rolava o programa “Ritmos de Boate” pela extinta Rádio Mundial AM/860, de segunda à sexta, sempre a meia-noite, com Fernandinho Dj como programador e Loopy DJ como operador e dj. Em 1983, surge o programa “Só Mix 98” na rádio 98 FM com Fernandinho DJ. Em 1984, Corello DJ estréia o seu programa na rádio Jovem Rio FM com o programa “Mix Mania”.
A rádio Cidade FM teve sua participação com o excelente programa “Cidade Quiet Storm” apresentado por Kaká. O “Night Fly” aconteceu na rádio Manchete, tinha mixagens maravilhosas de Fernandinho DJ. Estes dois programas tocavam um estilo mais romântico do charme, o estilo conhecido como Quiet Storm ou Slow Jam.
Vários outros programas foram voltados ao charme como “Balanço da Manchete”, “Clube do Som”, “Special Charme”, “Som na Caixa”, “Charme Pan” com Fernandinho DJ, “Soul Charme” com os DJ's Arthur e PC, “Black Beat” com DJ Loopy e "Seis e Dance" com Corello DJ, estes dois ultimos programas faziam parte da programação da extinta rádio RPC. “Manchete Laser Mix” com a locução de Marcos Fernando e mixagens de Fernandinho DJ. “Charme Mania” - rádio Mania, “Cassino Disco Club – O Som do Charme”, “Chame Club” apresentado por Pigmeu DJ, mixagens de Markin New Charme e produção de Joel Filho.
Falei um pouco do antigo cenário do charme para ficar aqui entendido a luta de um movimento que começou na década de 60 com o movimento “Black Rio”. Esses caras aí de cima, além de serem respeitados, fizeram e ainda fazem a sua parte. E você?
O mais triste dentro do cenário radiofônico é ouvir de coordenadores e diretores de rádios fm`s que o charme não se vende, que o charme não tem saída e que está morto. Como assim? Até concordo em parte com os diretores de rádio, com o produto atual não tem como bater de frente com o funk em horário nobre, mas dizer que está morto, aí é demais!!!!
Com toda essa trajetória do Charme nos clubes e nas rádios do Rio de Janeiro, falo para vocês que "Charme não é moda e sim estilo de vida”. Mas será que o Charme vai precisar mudar de nome para se tornar referência novamente? Não falo de novela, pois modismo passa. Falo de conceito.
"O charme pode ter acabado para muitos por não ser uma forma rentável de música, mas pra mim... a black music de qualidade sempre existirá como forma de arte ao expressar a emoção em suas letras, músicas e dança. Posso ser irracional ao defender este estilo musical que fez e faz parte da minha vida, mas nunca deixarei de lado as minhas convicções ao lutar pelo belo e pela arte."
Fica aqui o meu desabafo e o meu respeito aos mestres que me ensinaram a gostar de música bonita e contribuíram muito com a cultura urbana dentro do cenário carioca.
Até Mais,
Jacqueline Dos Prazeres
Um pouco da história documentada do movimento charme no Rio no ano de 1994. Vários bailes pela cidade e todos eles lotados.
Em 8 de março de 1980, o DJ Corello (Marco Aurélio Ferreira) criou e batizou o termo Baile Charme.
Produtor de Baile Charme
A voz e a cara da Equipe Cassino Disco Club
A História do Baile Charme: De um Começo Humilde a Ícone Cultural - Resumo de uma História
Já testemunhou uma legião de pessoas se movendo em perfeita harmonia sob um viaduto carioca, embaladas pelos hits de Michael Jackson ou Beyoncé? Então, você já presenciou o Baile Charme — uma celebração vibrante de resiliência, ritmo contagiante e orgulho negro que conquistou o país. Nascido nos anos 80 nos subúrbios do Rio, ele se tornou um símbolo de união e terapia coletiva. Que tal voltarmos no tempo e descobrir como tudo começou?
A Origem do "Charminho"
Em 8 de março de 1980, o DJ Corello (Marco Aurélio Ferreira) inovou em um baile no Clube Mackenzie, Méier, com uma frase que ficaria marcada: “Chegou a hora do charminho, transe seu corpo bem devagarinho”. O termo "charme" surgiu como uma adaptação do Rhythm and Blues (R&B) americano, unindo soul, jazz e samba. DJ Corello elevou essa cultura de dança a um nível de requinte, com movimentos ritmados que se tornaram a assinatura dos bailes.
As Equipes que Marcaram Época
Entre 1980 e 1990, equipes como Só Mix Disco Club e a Cassino Disco Club impulsionaram o movimento. O Baile Charme do Viaduto de Madureira, criado em 1994 (Na época Projeto Charme na Rua) pelos irmãos César e Celso Athayde, começou com 20 pessoas, usando som do DJ Marlboro, e hoje atrai até 5 mil por noite sob o Viaduto Negrão de Lima em Madureira. Este em 2013, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio, firmando de vez a sua relevância.
Charme Além da Dança: Resistência e Fortalecimento
O Baile Charme é um refúgio e uma trincheira. Franklin Miranda, produtor de baile charme, declara: “O charme começou como resistência e sempre será. O jovem preto que vai pela primeira vez a um baile se sente entre os seus”. Em entrevista ao site Metrópoles, ele enfatizou o papel social dos bailes: “Dançam pretos, brancos e mestiços no mesmo passinho. A resistência vem dessa troca”* .
Franklin também aponta desafios: “Não nos falta a mensagem nem a coragem para tentar. Nos falta apoio político e social“. Mesmo assim, o movimento ganhou fama mundial, citado até pelo New York Times como “símbolo da identidade e cultura negra”.
Charme no Século XXI: Tecnologia e Novos Horizontes
A cultura charme está sempre se renovando. Em 2019, o Baile Charme de Madureira -Delivery levou os passinhos para lives e eventos em outros municípios e estados como São Paulo, onde iniciativas como Baile Black Bom e Sampa Charme também espalham essa tradição. DJs como a Tamy Reis, que começou aos 4 anos influenciada pelo pai, mantêm acesa a paixão pela Black Music.
Em 2025, o documentário *“Charme na Rua”*, liderado por Celso Athayde, promete narrar essa história, enquanto festivais como o Eu Amo Black Music celebram 50 anos do gênero no Brasil.
O Baile Charme é mais que uma festa: é um manifesto de resistência, um abraço coletivo e uma aula de história viva. E como diria Corello: *“É preciso ter charme para dançar”* — e o Rio tem de sobra! 💃🕺✨
Fotos: Charmeiros.com
DISCOGRAFIA EQUIPE CASSINO DISCO CLUB
1983
A
New Edition – Candy Girl (Long Version) 5:35
Bar-Kays – She Talks To Me With Her Body (Remix) 6:20
Leon Haywood – I'm Out To Catch 4:55
Jimmy Spicer – Money (Dollar Bill Y'all) 5:05
Kurtis Blow – Boogie Blues 3:54
B
Dynamic Seven – Shame, Shame, Shame (Maxi Single) 5:17
Blue Feather – Let It Out (MF Master Mix) 6:57
Spirit (23) – Rock On Rock Tonight (Mix) 4:45
Peter Gabriel – Shock The Monkey 5:24
Rags & Riches – Medley: El Watusi/La Bamba 3:24
Volume II
A
Bar-Kays– Tripping Out 4:54
Philippe Wynne– Wait’til Tomorrow/Bye Bye Love 4:40
Cameo– Attack Me With Your Love (Extended Version)
Pilot (11)– You Are The One 5:50
B
Hot Cuisine– Who’s Been Kissing You? 5:30
René And Angela*– Save For Your Love (For = 1) 4:20
Mai Tai– The Rules Of Love
Unique (5)– You Make Me Feel So Good
Volume III
A
Freddie McGregor– Come To Me (Extended Version) 4:57
Gerry Woo (2)– Help Yourself 4:16
Walter Beasley– On The Edge (Remix) 4:50
Tony! Toni! Toné!– Little Walter (Extended Dance Mix) 4:57
Nia Peeples– Trouble (Remix) 5:07
B
B.V.S.M.P.– Be Gentle (Miami Dub) 5:02
Vanessa Williams– The Right Stuff (Extended Version) 5:07
Carol Lynn Townes– Let’s Talk It Over 5:13
Dee Lewis– The Best Of My Love (Full Dance Mix) 4:18
Shakatak– Mr. Maniac & Sister Cool (Coolest Cuts) 4:47
1989 - Volume IV
A
Is This Love? - O Scare
Make Thet Love - Finest Hour
Dont't Break Away - The Drama Club
Heaven Help Me - Deon Estus
B
Summer Love - Leotis
You're Gonnra Be Mine - Visions
Let Go - Sharon Bryant
Stuck On You - Jackie Jackson
CD Volume V
Desire – Love In Return 4:20
Tommye – My Mind 3:50
Truce – The Finest 5:24
Melissa Mann – Still In Luv 4:33
Massive Joy – Gotta Have You 3:39
Max-A-Million – Sexual healing 3:59
Judy Albanese – Happy 5:15
New City State – Uptight 3:04
The Affair – If Only You Could Be Mine 4:36
Tina Hicks – Home 3:49
H.I. – Natural High 4:54
U-Mynd – Do It Like That 4:53
Volume VI
DISCOGRAFIA EQUIPE SÓ MIX DISCO CLUB
LP Só Mix - 1985
LP Só Mix (1985) - Verso
LP Só Mix Disco Club (1990)
LP Só Mix Disco Club (1990) - Verso
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